Barack Obama é o representante democrata na corrida presidencial da maior potência econômica mundial. A mesma potência que caminhou com os direitos civis, apoiou as ações afirmativas e tem a população negra com maior poder aquisitivo do mundo. Fato histórico, animador e emocionante. Uma mensagem ao mundo. Matéria da mestra Cathy Horyn no
nytimes sobre a Vogue Itália de julho que vai trazer apenas modelos negras, do começo ao fim, fotografadas pelo craque Steven Meisel. Uma mensagem ao mundo da moda (por favor!!! não fiquem surdos!!). E aí, tô eu assistindo à cobertura de um dos desfiles do Fashion Rio onde a repórter pergunta: "Um modelo negro abrindo o desfile, isso é um protesto?" o estilista responde: "Sim, é um protesto, porque a quantidade de modelos negros nas semanas de moda é pouca..." blablabla fala das inspirações da coleção e vai mostrando a fila, que além do Joseph que abriu o desfile, só tem loiro!!!!!! Pára o mundo e me deixa descer, né? Se era pra ser um protesto, desiste ou faz com consistência....e vamo combinar, ninguém quer mais o óbvio e nem ficar fazendo discurso xiita por aí.
O problema é que o racismo na moda é igual ao racismo na "vida real": quem vive isso no dia a dia percebe as sutilezas em tudo, quem nem sabe do que se trata na pele, acha tudo exagero do mundo chato do politicamente correto. Aquela pesquisa que diz que 90% dos brasileiros não são racistas, mas pelo menos 80% conhece alguém que seja ainda é o dado mais revelador sobre o racismo brasileiro. E aí, traduzindo pra moda fica: toda semana de moda a gente vai conta a proporção, fica triste, indignado, mas percebe que avançou: que a Samira tava linda em NY, que a Emanuele foi a Barbie da M.A.C. , que a Gracie Carvalho foi recordista de desfiles junto com a Viviane Orth no último Fashion Rio, e aí vem o povo da moda e insinua que a capa da Vogue America com Lebron James e Gisele "poderia ser pejorativa por ter clara referência ao filme King King"?Ok, sou novata no mundo da moda, tenho apenas 8 anos de observação, mas entre eles só 4 de participação direta, e a vida inteira de luta pela tolerância, mas minha leitura da capa foi: um cara lindo, com uma super explosão, destaque do momento do esporte mais popular dos EUA, junto com a modelo nº 0 (no sentido de antes do #1) do universo. Casal lindo né? Se é improvável como King Kong, Romeu e Julieta, ou qualquer outra referência poética, artística ou estética, deixa para o consumidor dizer, ou não? Aí é muito igual à vida real mesmo né, o povo começa a enxergar chifre na cabeça de cavalo, tipo o povo contra cotas dizendo que vamos virar a nova África do Sul do apartheid.
A moda é racista, isto é um fato. Reuni tantos números, fatos, depoimentos pra minha tese de mestrado....Se a Naomi reclama, você imagina os outros modelos negros do mundo? Falando de Brasil, somos o país de maior população negra fora da África e somos um dos mercados mais promissores da moda mundial. Está aí minha questão: será que nós, criativos e criadores por excelência não poderíamos dar o pontapé inicial? Oops, a Vogue Itália já deu né? O segundo passo, o terceiro, sei lá!!! Algum passo que seja.....Consumo consciente, construção de um mundo melhor não é só tecido de bambu não minha gente!!
Utopia? Pode ser, mas estamos aqui pra isso né? Corre atrás do seu que eu tô aqui correndo atrás dos meus, e boa sorte pra todos nós!!!
ps:fotos dos lindos e talentosos modelos que trabalharam com a gente no desfile do AfroReggae ano passado. O 1º é meu maridão , que me inspirou na tese de mestrado e continua me inspirando na vida....., o 2º é o Claudio Negrão, a 3º é a Fabricia, 4º é o Sacramento, 5ª Janaina Pereira.